maio 30, 2016

DA BARRA PARA O PARANÁ: UMA AVENTURA
Meu avô Zé Fernandes era arrendeiro dos Pereiras. Tinha lavoura em toda encosta da Toca, do rio até o Canta-Galo. Morava numa casinha perto da lagoa, ali onde hoje é a casa do falecido Joca Pereira. À noite, ouvia, de uma lado, o barulho da cachoeira e, de outro, o esguelamento sem fim da saparia do banhado. A lagoa foi aterrada, mas subsiste por ali o coro dos sapos descendentes.

Um dia, ali chegou o rumor dos desbravadores e de seus sonhos no distante Paraná. Então, venderam tudo o que tinham, apuraram uns cobres e lá foram: ele, o padrinho Onofre e o tio Luiz.

Assim, foram parar em Corgo Rico, perto de Rancho Alegre. Ali moraram seis meses, só para fazer colheita de feijão e café, a serviço de um tal de Zé Conrado, mineiro de Varginha. Havia muitas famílias mineiras no lugar e sempre se encontravam no armazém do Ermínio, um italiano, lembrado ainda hoje como um homem bom.

Mais tarde, um Negro convenceu meu avô a ir para Nova Rondon. Viagem longa. Céu e mato por todo lado. Atravessaram o rio Ivai e foram parar nas terras de Demóstenes Luiz Mendonça e Claudinho Mendonça, donos de mais de dois mil alqueires de terra.

Lá tinha de tudo, café, feijão milho e frutas nativas que não acabavam mais. As capinas de lavoura não eram difíceis como as de Minas: o mato era raro e ralo e, na maior parte, somente aqueles delicados pés de mamão e melancia para cortar. Capinar era cortar pé de mamão e de melancia nativos.

Tio Luiz conta que tinha uma “peãozada enorme” na região, gente de todo tipo e de todos os lugares, aventureiros de família, criminosos fugidos da justiça e estrangeiros de fala enrolada. Como as mulheres eram poucas, quem as tinha vivia vigilante. 

Meu avô, quando saiu da Barra e botou pé na estrada, cuidou de levar com ele um rolo de cinco arrobas do melhor fumo que tinha produzido com sabedoria e arte, para consumo próprio. Não sabemos bem se ele adivinhou o valor de troca de um bom fumo para um pitador inveterado em terra estranha e erma. Só sabemos que ele ganhou prestígio, respeito, estima e mesmo veneração entre a “peãozada” daquele fim de mundo. Quando souberam da preciosa mercadoria, pelo aroma das baforadas e dos arredores de seu terreiro, não pararam mais de ir ter com ele, pedindo pedacinho de fumo, dois dedos, um tiquinho que fosse.

Seu Zé Fernandes era generoso na acolhida e no corte de um naco de fumo, que reconfortava até a alma dos pitadores visitantes. Assim, nunca teve problema com ninguém e, para aquela gente, era a imagem da bondade.

Os donos da terra permitiam o desfrute dela por cinco anos sem pagar nada. Meu avô progredia, tinha de tudo, inclusive, uma lavoura de café e a vida prometia dias melhores. Entretanto, as mulheres reclamavam muito daquela vida nos confins. Choravam para voltar. Um dia veio a gota d´água: viram três onças bebendo água no batedor de roupa e os choros e súplicas para a volta cresceram. Padrinho Onofre convenceu então meu avô a voltar.

Um dia, ele estava no porto do rio Ivai e apareceu por ali um itajubense chamado José de Nascimento com seu caminhão. Então meu avô decidiu: voltariam todos com ele para a Barra. Triste de dar pena, meu avô entrou no caminhão, deixando tudo, lavoura e sonhos de mais e mais lavouras – porque, estranhamente, meu avô nunca desejou posse de terras.

A viagem de volta foi longa e dolorida consumição de tudo o que tinham. O caminhão quebrou em Itaim e foram obrigados a ficar quinze dias em hotel esperando conserto. Depois disso, seguiram viagem, mas o caminhão se quebrou novamente em Conhal, com demora de mais quinze dias. Assim, o dinheiro acabou e passaram até fome.

Chegaram à Barra sem nada, nem o que comer. Eu me lembro da mobilização do meu pai e do tio Fernandinho, para que tivessem sustento. Meu avô se entendeu com tio Dito Pereira e foi morar numa casinha á beira do rio, bem defronte da casa do João Grande e da Sinhana, do outro lado do trecho espumante do rio. Padrinho Onofre ficou numa casa que tinha perto do pé da ponte, de onde o jovem e bom Zé Pereira caiu e morreu na enchente.

Morando ali, recomeçaram as lavouras, verdejando sempre do rio até a Toca e o Canta-galo. A passarada era tanta que o voo repentino era um trovão. O alimento era farto e, as matas, escassas.

                                     Genésio Fernandes, Maio de 2012.

maio 10, 2016





Amarelo.

Amarelo é caramelo
Amarelo luz do sol
Amarelo cor do tom
Amarelo cor do som
Amarelo gira o sol
Amarelo girassol
Amarelo
Amar é elo.


Mariana Lima de Almeida