maio 31, 2010




Com a mole argila
Do quintal dos fundos
Fiz a Copa do Mundo


With the soft clay
I took in the backyard
I crafted the World Cup


(Beto Palaio)


Pequeno estudante
Fecha livros um momento –
besouro na vidraça.


Small student
Closes book a moment –
beetle in the window


(Marilia Kubota)


uni duni tê, salamê minguê
e pensar
que o escolhido foi você


Einie beanie, Bob Saleenie
and just to think
that you were my genie


(Nydia Bonetti)


Cross your ankles
Sit up straight and behave
Like a young lady


Cruze as pernas
Sente direito e comporte-se
Como uma mocinha


(Jodi MacArthur)


Plaid skirts, white shirts, we
Girls in uniform remain
Individuals


Saias plissadas, blusas brancas, nós
Meninas em uniformes continuamos
Muito individuais


(Kristin Fouquet)


marbles in sand
hopscotch in chalk
recess begins


bola de gude na areia
amarelinha com giz
as férias chegaram


(Maryse Dumas)


Vibram no início
Logo deixam de ser eles
No fim, mortos-vivos


Vibration at beginning
Soon they no longer exist
At the end, zombies


(Neuzza Pinhero)


Another seed on the wall
breaking bricks
fields forever


Outra semente na parede
quebrando tijolos
campos para sempre


(Ines Lempek)


If only I had a pair
of white wings
young escape artist


Queria ter tido um par
de asas branquinhas
jovem artista sonhadora


(Grace Andreacchi)


day lilies rim the yard
so much missed,
so much lost


Lírios contornam o quintal
Tanto que se perdeu
Tantos que se perderam


(Melanie Bishop)


aprendi mais no recreio
contar e ler
foi secundário


class intervals was for sure
to count and to read
I learned at second grade


(dade amorim)


Olhos plenos de céu
E as coisas que eu aprendia
nasceu um poema


Eyes full of skies
And the things I learned
a poem is born


( Andrea Cristina)


Da pedra bruta,
Um brinquedo novo
Toda uma tarde


At touch stone
A new amusement
All afternoon


(Luiza Castro)


Ciranda de roda
a música não lembro
só quis segurar-lhe a mão.


Merry go round
The music I don’t remember
But want to hold your hand


(Lara Amaral)


It's a precious thing to re-
discover curiosity
Still behind every decision


É bom demais re-
expor nossa curiosidade
Ainda viva nas escolhas


(Epiphanie Bloom)


in a barrel of
fire, i burned toads alive, their
cries meant nothing then


num barril em
chamas, eu queimava rãs vivas, seus
gritos nunca me afligiam


(Aleathia Drehmer)


tempos de escola
aprendendo ciências
mas nada da vida


school days
learning sciences
but nothing on life


(Betty Vern)


No recreio aprendi
o que gosto, no que creio
e merenda preferida, o meu recheio.


Learned in the playground
what I like, what I believe
and favorite meals, my filling.


(Jane Chiesse)

maio 24, 2010


A noite estrelada (Starry Night) – Van Gogh - 1888

Vagalumes em casa
Lâmpadas fluorescentes
Alumiam menos


Fireflies at home
Fluorescent lamps
Illuminate less


(Marilia Kubota)


Quetzalcoatl canta
Amuletos de madrepérola
Um Mojo bordado julga


Quetzalcoatl sings
Mother-of-pearl amulets
A woven Mojo judges


(Beto Palaio)


Breathe in their dance
Malady of peace and chaos
Starry Night serenade


Suspiro em sua dança
Moléstia de paz e caos
Canto da Noite Estrelada


(Jodi MacArthur)


Ocean of stars
caught in the sleeping
mermaid’s hair


Oceano de estrelas
capturados no sono
cabelos de sereia


(Grace Andreacchi)


florescem
árvores de lanternas
no meu jardim


flowering
lantern’s tree
in my garden


( Nydia Bonetti)


suas letras brilham
e ofuscam, vaga,
lumes...


his writing shine
and obscure, vague,
lights…


( Joe_Brazuca)


Infinitude em candeia
Serpentes auriazuis no
lusco-fusco da aldeia...


Perpetuity on lamp
Gold n´ blue snakes over
twilight in the parish...


(Lilly Falcão)


Stir me from a dream
to be awake, not asleep
beautiful nocturne


Mova-me de um sonho
para ficar acordada, bem desperta
Maravilhoso noturno


(Kristin Fouquet)


vejo a lua amarela
os azuis serpenteiam à sua volta
abaixo a cidade adormece


I see the yellow moon
blues meander around
below the city sleeps


(Daniela Baitala K)


midnight blue punctured
by the breath of god on his
two final heartbeats


azul da meia-noite perfurado
pelo sopro de Deus em suas
duas palpitações finais


(Aleathia Drehmer)


stars churned
to milky way
moon drips silent


estrelas se apressam
rumo à via láctea
a lua pinga silêncios


(Maryse Dumas)


liquid night
the star tide washes
into morning


Noite líquida
A maré de estrelas lava
Até a manhã


(Jim Benz)


Decúbito frontal ao som da noite
Olhos abertos, atentos, estrelas
Olhos fechados, seu cheiro, loucura


Departing to the sound of night
Eyes open, watchful, stars
Eyes closed, your smell, madness


(Marcela Ohana)


manto negro, o palco abre-se
pássaro na dança da Vênus
serpente de turbulentos pensamentos


black shroud, the stage opens
Bird in the dance of Venus
Snake of turbulent thoughts


(Ines Lempek)


Lua, estrelas –
místicos raios de luz
no escuro azul.


Moon, stars –
mystical light rays
in dark blue


(Betty Vern)


estrelas salvam
os olhos
do invisível


star rescue
the eyes
on invisible


(Dade Amorim)


Corpos emplumados
Águias, pumas e serpentes
Procuram Montezuma


Feathered bodies
Eagles, cougars and snakes
Seek Montezuma


( Neuzza Pinhero)

maio 17, 2010


Oito batons – Pintura de Wayne Thiebaud

Para todos os sabores
Que moveram nosso amor
A provar com ternura


To all those flavours
That encouraged our love
To taste with kindness


(Beto Palaio)


this honey on lips
runs slow, an earth on axis
that soon comes again


Este mel nos lábios
A durar lento, uma terra a girar
Que retorna sempre de novo


(Aleathia Drehmer)


romã pitanga morango maçã
bombom cereja
quando a noite chegar


pomegranate apple strawberry
sweet cherry bonbon
when the night come


(Nydia Bonetti)


mango butter
cherry cream
smears of lipstick


manteiga de manga
creme de cereja
manchas de batom


(Maryse Dumas)


A succulent duo.
A toast to you both and
The tastes of love.


Um duo suculento.
Um brinde para ambos e
Os sabores do amor.


(Jodi MacArthur)


o calor dos lábios
envolto em contornos cores e sabores
revela todo o sabor do pecado


the heat of the lips
wrapped in outline colors and flavors
reveals the full flavor of sin


(Daniela Baitala K)


Breu azul. Noite sem fim.
Teu adeus escarlate em meu
Batom tão carmesim.


Deep blue. Endless night.
Your crimson farewell in my
lipstick so scarlet-bright .


(Lilly Falcão)


Adds flavor to taste
Memory trigger too, be
Aroma or stench


Some sabor ao gosto
No gatilho da memória, existe
Aroma ou fetidez


(Kristin Fouquet)


batom vermelho
vinte e quatro horas
fogo na boca


red lipstick
twenty-for hours
mouth in fire


(Paula Cajaty)


Você por um quis
por um beijo fugaz
sabor de anis


you for a want
for a fleeting kiss
anise flavor


(Ines Lempek)


entre um beijo e outro
o gosto dos morangos maduros
das frutas doces


in the middle of kisses
taste of ripe strawberry
sweetness of fruits


(Líria Porto)


Morangos, poesia e beijos
preenchem maravilhosamente
uma boca sedenta


Strawberries, poetry and kisses
wonderfully fulfilling
a hungry mouth


( Luzzsh)


Gosto de maçã
Na boca do desejo
Lambeu o batom


The apple’s taste
In the mouth of desire
Licked the lipstick


( Betty Vern)


De repente, no almoço,
Beijinhos na varanda
Sobre a rua abandonada.


Suddenly at lunch
Kisses on the balcony
Over a lonely street


(Marilia Kubota)


vivo a vertigem
de ser ave no avesso
de um verso eterno


I live the vertigo
of being a bird on the inside out
of an eternal verse


( Renata Pagliarussi)


beijinho amargo, bombom
beijinho sem gosto, balinha
beijinho sem cor, batom


for bitter kiss, bonbon
tasteless kiss, candy
kiss with no color, lipstick


(Marcela Ohana)

maio 16, 2010


A pensadora – Escultura inacabada de Auguste Rodin (Modelo: Camille Claudel)

A small infinite
Drops down inside
A bulky empty jar


Tão precário infinito
A escorrer para dentro
Do imenso jarro vazio



(Beto Palaio)

maio 09, 2010

O romance do Pavão Misterioso



1
Eu vou contar uma história
De um pavão misterioso
Que levantou vôo na Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando uma condessa
Filha de um conde orgulhoso.

2
Residia na Turquia
Um viúvo capitalista
Pai de dois filhos solteiros
O mais velho João Batista
Então o filho mais novo
Se chamava Evangelista.

3
O velho turco era dono
Duma fábrica de tecidos
Com largas propriedades
Dinheiro e bens possuídos
Deu de herança a seus filhos
Porque eram bem unidos.

4
Depois que o velho morreu
Fizeram combinação
Porque o tal João Batista
Concordou com o seu irmão
E foram negociar
Na mais perfeita união.

5
Um dia João Batista
Pensou pela vaidade
E disse a Evangelista:
- Meu mano eu tenho vontade
de visitar o estrangeiro
se não te deixar saudade.

6
- Olha que nossa riqueza
se acha muito aumentada
e dessa nossa fortuna
ainda não gozei nada
portanto convém qu'eu passe
um ano em terra afastada.



Ednardo – Pavão Misterioso – 1974

Clique e leia o Pavão Misterioso na íntegra.

maio 05, 2010

Alice Abduzida


(Ilustração de Anna Zwiers)

Através do noticiário da TV era impossível deixar de se assustar. Divulgava-se ali algo estarrecedor sobre um maníaco que assaltava e assassinava mulheres e moças de família. Alice estava atenta aos alardes eletrônicos a respeito deste maníaco que atacava nas redondezas de seu bairro. As notícias asseguravam que ele matava, e depois, estuprava. Evidente que ela não se sentia segura nem dentro de casa, muito menos em sair à passeio por aí.

- Até os ferrolhos das janelas eu confiro todas as noites para saber se as fechei direito... Me dá calafrios só de pensar neste crápula...

Na realidade, Alice se sentia a próxima vitima. Ouvindo às noticias, ela praticamente se via nuazinha, à disposição do facínora. Via-se deflorada e tendo seu corpo de morta ultrajado pelo bandido. Isto ela imaginava fielmente porque ouviu na TV que o serial killer era metódico. Inclusive, de acordo com uma fonte da polícia, os exames indicavam que ele até tornava a vestir as mulheres depois da violência sexual. Alice não quer mais sair na rua sozinha. Ela tem medo de tudo. O próprio carteiro lhe inspira veladas desconfianças. É um homem abrutalhado que olha fixamente para ela enquanto lhe entrega as correspondências. O outro que ela desconfia é um caixa do supermercado local. Este indivíduo, com aparência de um estivador das docas, olha para ela com avidez, diretamente para suas pernas, e depois para seus seios, num perscrutar que a deixava invadida. Este homem desequilibrado a mirava despudoradamente e somente depois se propunha, não sem resmungos, a lhe entregar o troco correspondente à compra do mês.

- Será que é ele?


(Um trecho de conto do meu livro Caché Incluso)

maio 03, 2010


Desenho de Michelângelo

NO VATICANO

Raffaello em peito nu.
Depois a Praça de São Pedro, aos pombos, vazia.
Soluços sussurrados. A safada. Calcule o escândalo.
Sem traçar uma linha em latim. A senhorita maluquinha.
Para a necrópole de um dia apenas. Surgiu insaciável.

Vai Cérberus. Ao tempo o filme de prazer se escusa.
Ela esperava o pás de deux para irmos copular. À francesa.
Como cruzados convictos. Bandearam-se os atores,
A comer pizza mozzarella com champignon e azeite italiano.
Pode até ser lei na Antuérpia. Onde azulejam obras de Magritte.
Aqui, no entanto, la nave va em meio à santidades. Inclusive,
Possuíamos um ângulo, muito breve, do futuro transparente,
Ela preferia a roupa com amaciante, um piso bem encerado
E dos préstimos de uma tia que transatlanticou
Algo aconteceu meses atrás, com a tia imitando o Planeta Terra
Como se a Madama Rocambola também quisesse abdicar
Dos movimentos de rotação e translação.
Já imaginou se Madama Rocambola desiste de seu rebolado?

Deus desnuda-se na casa paroquial
Os lábios que sorveram a hóstia fremem numa oração
O perfume das orquídeas, sobre a cidade, adornam o Animal Planet
E, num afã, um tempo sem afrescos segue o andor
Num pequeno vapor que descobriu calvas nas serranias
E você tendo de posar para comerciais de enxovais de bebês?

Apenas uma implicação com o abismo das serras.
Pois precipício tipo lapa é da alma de cada um.
Beiramarávamos o sol nascente desde a Avenida Atlântica.
A Cinderela achou de fazer um boquete justo no túnel velho.
A idéia é um casamento consagrado nos dentes de uma pianista.
E o que se tocava, de passagem, muito lento, muito rápido
Era como um ninho de talheres farfalhando num gaveteiro
Chegamos afinal. E como meus vizinhos foram para a Espanha,
Fizemos amor no hall de entrada deles. Mas ninguém tirou a roupa.
Só mascamos chicletes e demos uma cochilada.
Depois fomos embora. Apalpar os fofos em outro lugar.

- Veja amor, todo coelho gordo é mal amado.
A coroa do sol já havia adormecido.
E para ela o sol continuou a brilhar em seu vôo noturno,
Dizer o que? Ela, nada, nuance, tudo. Sempre em exagero.
Eu desejava secretamente suas eternidades
Onde está a chave, amor? No sapatinho?
O príncipe, dono de seu coração, era outro e eu não sabia.
Mas sou de momentos concordantes na dita paz universal.
Incompatível com um rasto de luz lilás na pele sem juízo dela.
Sombras plagiam sombras. Logo Agnolo, Carruci e outros calabrêses
Pularam o muro. E nos mármores das catacumbas se viam sombras.

E ela pergunta, coca? Papelote? Quer um, amore?
Porção terreiros brasílicos no pó da praia, alhures. Tão linda,
Tão egípcia. Tinha algo de uma Gabriela dos livros santificados.
Claro que avó, bisavó e tataravó. Agora pobretãs e mendigas,
Súbito, despertaram para voltarem a ser ela mesma.
Ao longe silhuetas de guindastes negros ocupam-se das docas.
O luminoso do Motel Giovanni ainda piscava seus néons.
Duas pombas brancas se repetiam perfeitamente numa poça d’água.
O tesão é qualcosa di te que surge aristocrático aos que nunca trepam.
O incesto, a gaiola, o lamber e os retorcidos frontispícios do Vaticano.
Ela então me ofereceu o colo, com esmero, mas sem amor.
E o Rei continuou roendo Mondrians lá fora.
Com a realidade a esculpir cavalos sólidos.
E a púbis dela cresceu para aninhar aguardentes.
Navegantes náufragos da mansidão.
- Ragazzina, você não achou as minhas abotoaduras na Jacuzzi?

(Beto Palaio)