OS ANTÚRIOS VERMELHOS
1.
hoje sonhei subterrâneos
caminhávamos lento, numa procissão silenciosa
túnel estreito sob a terra úmida
caminhávamos lento, numa procissão silenciosa
túnel estreito sob a terra úmida
2.
Florinda e Marli arrancaram inteiros
os antúrios vermelhos
hospedeiros que cresciam entre limos
nos vãos das paredes antigas
— mas eram meus! eu grito
grito que ecoa forte, na imensa galeria
meus! meus! meus!
os antúrios vermelhos
hospedeiros que cresciam entre limos
nos vãos das paredes antigas
— mas eram meus! eu grito
grito que ecoa forte, na imensa galeria
meus! meus! meus!
3.
tento replantá-los no chão, num buraco que abro
com minhas mãos
[doem-me as unhas]
mas encontro sob a terra
um gato de cerâmica azul que ainda respira
me assusto
com minhas mãos
[doem-me as unhas]
mas encontro sob a terra
um gato de cerâmica azul que ainda respira
me assusto
4.
agora, procuro meus sapatos
[nos meus sonhos, estou sempre descalça
não sei para onde ir]
vejo a casa que um dia foi nossa, na lateral do túnel
como numa janela
mas está vazia, triste, em tons de sépia, úmida
alguém me diz: — vai, agora é tua!
mas prefiro seguir em frente, tendo a nítida impressão
de ouvir a voz de meu pai, dos tios, de todos
os fantasmas da casa
a me dizer:- é por aqui! por aqui! por aqui!
[nos meus sonhos, estou sempre descalça
não sei para onde ir]
vejo a casa que um dia foi nossa, na lateral do túnel
como numa janela
mas está vazia, triste, em tons de sépia, úmida
alguém me diz: — vai, agora é tua!
mas prefiro seguir em frente, tendo a nítida impressão
de ouvir a voz de meu pai, dos tios, de todos
os fantasmas da casa
a me dizer:- é por aqui! por aqui! por aqui!
NYDIA BONETTI
Arte: Jean-Michel Folon
Arte: Jean-Michel Folon
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