junho 05, 2016


Os esqueitistas

Silêncio, por favor, enquanto assisto o movimento dos rapazes com seus esqueites. Quem vê suas roupas largas, com calças maiores que as pernas, não se engane, não é despojo - é para que caiba a grandeza que há em cada um deles... Chegam em grupo, mas bem poderiam vir sozinhos, porque cada um vive seu momento ao mesmo tempo e independente dos outros. São incansáveis em repetir mil vezes a mesma manobra, às vezes cometendo mil vezes o mesmo erro, mas eles persistem, não se entregam ao erro - perseguem por instinto ou obstinação a perfeição. O esqueitista sabe que é preciso treino, aperfeiçoamento constante para conseguir a manobra perfeita, e querem conseguir exclusivamente o seu melhor, porque não há competição entre eles. Naquele instante, são apenas o esqueitista, o chão, o ar e o esqueite.  Em cada obstáculo tem-se um novo desafio, um limite a ser superado, um vencer o medo a cada instante. A cada segundo a sabedoria para hora ousar, hora manter o equilíbrio. O esqueitista não tem medo de machucar-se, não tem medo da queda - O esqueitista entrega-se. Corre, salta, cai. Nenhum de seus companheiros manifesta-se ou estende a mão. O silêncio é sinal de respeito e eles sabem que o outro é capaz de levantar-se sozinho. Cair faz parte da vida, e não importa quantas vezes caiam ou se machuquem, eles levantarão e tentarão outra vez.  Não, ninguém jamais os ensinou coisa alguma. O esqueitista apenas sente que dentro dele existe uma força enorme para realizar feitos incríveis, e em suas manobras e peripécias vão nos dizendo do jeito deles que por mais que erremos ou machuquemo-nos no caminho, devemos tentar sempre, porque, como eles, todos nós somos grandes, mas muitas vezes deixamos de acreditar nisto...

Augusto Branco

(Para João Luis de Oliveira, eterno esqueitista)

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