julho 16, 2014


SONHOS, SONHOS, SONHOS


EU PRECISO NAVEGAR. Tudo cabe na palma da mão. O sonhar sem limites. Arriscar-se em visões. Navegar noutros mares. Caminhar novas trilhas. O futuro nas mãos. O espaço para o sonho. Descortina-se a vida. Na retina dos olhos. Luz que se acende.  Ilumina o caminho. Passo a passo adiante. Limites não há. Para quem sabe sonhar.

NESTE ESPELHO feito de gelo. Ela dormia mais algumas horas, apenas mais algumas horas. Durante a noite ela teve um sonho conturbado, que lhe era intangível, que lhe escapava, deixando apenas uma impressão sobre seus sentidos entorpecidos. No sonho ela estava de pé e nua, num deserto inóspito, sob o frio gélido do início da manhã. Havia neve e gelo por todos os lados. No entanto, ela estava à procura de uma fonte de água que lhe aliviasse a sede terrível que sentia. Mas não foi água potável o que encontrou. Havia no meio daquele vasto campo de gelo uma máquina de costura, apenas aquela velha máquina de costura que a esperava. Quando menina ela havia trabalhado para sua mãe naquela máquina de costura. Fora prisioneira da insanidade e da pobreza em que viveram. Uma situação inadiável onde teria de servir sua mãe por longos anos, sem remuneração ou incentivo de que estaria fazendo um bom trabalho. Agora, naquele sonho, ela recebia aquela máquina de costura de volta. Então ela sentou-se na máquina e começou a costurar. Logo ela notou que confeccionava um balão colorido. Dias e noites geladas. Naquela terrível planície ela confeccionou seu balão. Depois falou durante o sono: “diga para minha mãe que estou indo. O balão está pronto. Diga que estou indo”. Naquele sonho ela voou com o balão para longe. Por sobre uma planície repleta de gelo ela vislumbra finalmente um ponto verde. Um jardim que a esperava. Mais perto ela vê que o jardim é um campo florido com uma fonte que jorra água fresca. Então ela dispensa o balão e mata sua sede. Depois ela acorda e até que gostou um pouco do que sonhou.

DE VOLTA AO SONHO hoje acordei de um sonho estranho desses que nos causam vertigem e a sensação de que estamos caindo da cama e ao mesmo tempo a vontade de continuar a sonhar para saber o desfecho pois nos resta a sensação de algo inacabado como na vida parecem inacabados certos fatos que nos ocorrem mas sem dúvida na vida real não estaria sendo perseguida por um lobo feroz e voraz como numa estória de chapeuzinho vermelho perdida na floresta indo para a casa da vovó mas talvez por algum bandido ou assassino que muito não diferiria de um lobo embora suas intenções possam ser outras que não comer-me se bem que num sentido figurado poderia até ser essa sua intenção afinal não faltam indivíduos com taras diversas nessa cidade grande assim como a floresta e suas imensas  árvores poderiam simbolizar os enormes edifícios que nos rodeiam  no centro da cidade e quem sabe um desejo secreto de voltar a ser criança num mundo para mim desconhecido e cheio de surpresas seja representado nesse sonho bizarro onde vejo essa vontade realizar-se o que me leva a divertidamente pensar que se pegar novamente no sono talvez o sonho possa continuar de onde parou e com um sorriso nos lábios fecho meus olhos a espera do lobo


Ianê Mello + Beto Palaio + Ianê Mello


(Dois mini-contos de Ianê Mello com um conto de Beto Palaio ao centro)


Arte: Marc Chagall – Anoitecer na janela - 1950

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