SONHOS, SONHOS, SONHOS
EU PRECISO NAVEGAR. Tudo cabe na palma da mão.
O sonhar sem limites. Arriscar-se em visões. Navegar noutros mares. Caminhar
novas trilhas. O futuro nas mãos. O espaço para o sonho. Descortina-se a vida.
Na retina dos olhos. Luz que se acende.
Ilumina o caminho. Passo a passo adiante. Limites não há. Para quem sabe
sonhar.
NESTE ESPELHO feito de gelo. Ela dormia mais
algumas horas, apenas mais algumas horas. Durante a noite ela teve um sonho
conturbado, que lhe era intangível, que lhe escapava, deixando apenas uma
impressão sobre seus sentidos entorpecidos. No sonho ela estava de pé e nua, num
deserto inóspito, sob o frio gélido do início da manhã. Havia neve e gelo por
todos os lados. No entanto, ela estava à procura de uma fonte de água que lhe
aliviasse a sede terrível que sentia. Mas não foi água potável o que encontrou.
Havia no meio daquele vasto campo de gelo uma máquina de costura, apenas aquela
velha máquina de costura que a esperava. Quando menina ela havia trabalhado
para sua mãe naquela máquina de costura. Fora prisioneira da insanidade e da
pobreza em que viveram. Uma situação inadiável onde teria de servir sua mãe por
longos anos, sem remuneração ou incentivo de que estaria fazendo um bom
trabalho. Agora, naquele sonho, ela recebia aquela máquina de costura de volta.
Então ela sentou-se na máquina e começou a costurar. Logo ela notou que confeccionava
um balão colorido. Dias e noites geladas. Naquela terrível planície ela
confeccionou seu balão. Depois falou durante o sono: “diga para minha mãe que
estou indo. O balão está pronto. Diga que estou indo”. Naquele sonho ela voou
com o balão para longe. Por sobre uma planície repleta de gelo ela vislumbra
finalmente um ponto verde. Um jardim que a esperava. Mais perto ela vê que o
jardim é um campo florido com uma fonte que jorra água fresca. Então ela
dispensa o balão e mata sua sede. Depois ela acorda e até que gostou um pouco do
que sonhou.
DE VOLTA AO SONHO hoje acordei de um sonho
estranho desses que nos causam vertigem e a sensação de que estamos caindo da
cama e ao mesmo tempo a vontade de continuar a sonhar para saber o desfecho
pois nos resta a sensação de algo inacabado como na vida parecem inacabados
certos fatos que nos ocorrem mas sem dúvida na vida real não estaria sendo
perseguida por um lobo feroz e voraz como numa estória de chapeuzinho vermelho
perdida na floresta indo para a casa da vovó mas talvez por algum bandido ou
assassino que muito não diferiria de um lobo embora suas intenções possam ser
outras que não comer-me se bem que num sentido figurado poderia até ser essa
sua intenção afinal não faltam indivíduos com taras diversas nessa cidade
grande assim como a floresta e suas imensas
árvores poderiam simbolizar os enormes edifícios que nos rodeiam no centro da cidade e quem sabe um desejo
secreto de voltar a ser criança num mundo para mim desconhecido e cheio de
surpresas seja representado nesse sonho bizarro onde vejo essa vontade
realizar-se o que me leva a divertidamente pensar que se pegar novamente no
sono talvez o sonho possa continuar de onde parou e com um sorriso nos lábios
fecho meus olhos a espera do lobo
Ianê Mello + Beto
Palaio + Ianê Mello
(Dois mini-contos de
Ianê Mello com um conto de Beto Palaio ao centro)
Arte: Marc Chagall –
Anoitecer na janela - 1950
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