dezembro 01, 2008

The Papa is Pop and the Papa of Pop is Andy Warhol.


Roy Lichtenstein - Whaam!


Andy Warhol - Campbells Soup


Jasper Johns – Flag


Tom Wesselmann - Landscape #20


Wayne Thieabaud – Three Machines


Quintessential Pop books:

Scum Manifesto, by Valerie Solanas

Whaam! / The Pop Art

A Arte Pop

Andy Warhol - A /a Novel


Comvulsively Pop films:

Monologue of engaging works.

The comics and Pop

Pepsi ad with Maddona

Shattered (Jagger for Warhol)


POP music poping:

Doris Payne – Just One Look

Stupid Cupid - Mandy Moore

Brenda Lee - Will You Still Love Me?

France Gall - Bonsoir John John

The Beatles - I Call Your Name

novembro 10, 2008


Vulpes


You must be open to everything, he tells me

Você deveria estar aberta para tudo, ele me diz

as I walk out onto the porch to count stars

enquanto saio para o terraço para contar estrelas

and burn lungs with the sweet south.

e aquecer meus pulmões com o vento do sul.


There is a great silence in noise

Há um grande silêncio no meio do barulho

watching blue screened television through blinds,

vê-se a televisão em reflexos azuis através das cortinas,

and absorbing the hum of garage door lights

e absorvo o zumbido de luzes nas portas das garagens

making a mirage on wet pavement. Rain trickles,

a fazer festas no pavimento molhado. A chuva murmura,

as if slow moving rivers, into the grate.

como rios lentos que somem nas bocas de lobo.


Water dripping from the wood beneath my feet

O piso de madeira que goteja sob meus pés

vibrates like the inner sanctum of a clockmaker,

vibra tal um santuário para um relojoeiro

the gears in my head constructing time stealers.

as engrenagens dentro de mim erigindo o tempo roubado.


I hear 18 wheels on the wet curves, air in brakes

Ouço 18 rodas na curva úmida, ao assovio dos freios

signaling the solemn fact that these small towns

sinalizando o fato solene dessas pequenas cidades

go ghost on Sunday's at six. All that is left

esvaziarem-se nas noites de Domingo. E tudo que sobra

are the strangers gliding over tangles of highway,

são estranhos vultos a deslizarem na rodovia distante

silver-backed foxes low slung in hunt

Como raposas cinzentas correndo lentas na caça


With nimble fingers, even in the damp coming winter,

Com meus dedos doridos, pressinto a chegada do Inverno,

I tell him sadly, but with conviction,

digo para ele, meio evasiva, mas com convicção,

there are no stars tonight, no stars.

que não há estrelas no céu esta noite, nenhuma estrela…


Aleathia Drehmer 2008


http://myabdication.blogspot.com/

novembro 05, 2008

Warhol fotografando Beuys

outubro 12, 2008

CLARICE LISPECTOR E O OVO



(Conto de Clarice Lispector, com leitura de Fellipe Foureaux)

outubro 10, 2008

Anja Schrey



Escondida” 2006 - Lápis de cor

setembro 30, 2008

AQUARELAS DE BETO PALAIO

(Todas em papel Vergê 220 grs, tamanho 44x32 cms)


"No Sireama" - Aquarela e plástico derretido - Beto Palaio – 2002


"Será Arte" - Aquarela e plástico derretido - Beto Palaio 2001
AQUARELAS DE BETO PALAIO


(Ser Vos Am Or) - Aquarela e plástico derretido - Beto Palaio 2002


"Hijas" - Aquarela e Plástico derretido - Beto Palaio – 2001



"A arte é um ramo da arte" - Aquarela e pástico derretido - Beto Palaio 2002


"Proveres" - Aquarela e plástico derretido - Beto Palaio – 2001
AQUARELAS DE BETO PALAIO

(Todas em papel Vergê 220 grs, tamanho 44x32 cms)


"Quai" - Aquarela e plástico derretido - Beto Palaio – 2001


"Sovaco e Morcegos" - Grafite, aquarela e plástico derretido - Beto Palaio – 2002

setembro 22, 2008



Nos anos 60 Carlos Heitor Cony lançou vários livros de peso, muitos confessionais. Depois sumiu, andou pelo jornalismo, até ser redescoberto nos anos 90. INFORMAÇÃO AO CRUCIFICADO foi escrito em formato de diário, quem conhece a biografia do autor pode achar que é confessional, eu acho isso. O título é o vol .32, da célebre Coleção Vera Cruz, da Civilização Brasileira, lançado em 1961. Muitos romances foram escritos em forma de diário, este parece ser um deles, e este blog pretende juntar estes diários “ficcionais” também, de modo que não estranhem. O pedaço do diário abaixo corresponde ao começo do livro.

1944
7 de março

Dia de São Tomás de Aquino. Padroeiro dos filósofos, padroeiro da divisão. Sim, filósofo, olho-me no espelho cheio de importância, sou um filósofo, o italiano que me fez a batina nova botou no embrulho: “Ao filósofo João Falcão, no 28”, sou eu mesmo, filósofo João Falcão.
Data festiva no Seminário. Fim do longo retiro espiritual com que se inicia o ano letivo.A semana inteira em silêncio, muita capela, muita conta de rosário desfiada silenciosamente sob pátios coloniais.
Pela manhã: o jesuíta que fez as prédicas exaltou a alegria da Fé, a dignidade do Altar, a felicidade da vida cristã e devota. Convidou-nos a combater o bom combate.
Missa da comunidade celebrada pelo Senhor Arcebispo, na capela externa – nossa antiga capela colorida por vitrais de tardes de sol começou a ser demolida sob as picaretas que o Arcebispo benzeu há tempos e que deverão destruir o velho casarão bicentenário. Sobre as ruínas de dois séculos começam a edificar um seminário estranho ao meu coração.
O Deo-gratias no refeitório, pelo café da manhã. Pe. Reitor surgiu na porta principal:
- Benedicamus Domino!
- Deo-gratias!
De inicio um leve sussuro. Gradativamente o borborinho cresceu, tímido. E logo atingíamos ao tom habitual – barulho de duzentos rapazes, quase algazarra.Reencontro com o mundo, silêncio mutilado.
Habituara-me ao sossêgo daqueles dias. Sentia as palavras hostis. Ante a balbúrdia geral descobria na voz humana sons desagradáveis, todos, não é à-toa que os pássaros fogem do homem. Durante sete dias , rezara, ouvidos abertos à voz misteriosa que soa dentro, oculta-presente sempre. A Voz. Voz que um dia ouvi, inadiável: “vem e segue-me” . Fui.
Vozes:
- Passa a moringa.
- Olha a manteiga.
Olhei a moringa. Passei a manteira. Fui.
Irritação. Eduardo, a meu lado, catucou-me com o braço:
- Desembucha logo!
(Desembucha)
Falar, após sete dias de silêncio – uma capitulação. Há homens que não falam. Loucos, mudos. Ah, há também trapistas, fazem voto de silêncio. Pe. Cipriano quando esteve na Itália visitou o convento da Ordem, viu o frade velhinho que chorava quando ouvia voz humana.
Animais também não falam. Ou falam? Bolas, sou homem – um filósofo – dotado de inteligência e voz, falar é um direito, somos reis da Criação por privilégios assim.
Rei da Criação. Chamei o copeiro, mostrei a xícara:
- Olha que porcaria!
Vim ao estudo. Meu irmão deu-me um caderno grosso, lombadas verdes – completamente ridículo. Não me servirá para nada. Parece tombo de cartório, livro de Haver e Dever , algo estúpido assim.Penso em aproveita-lo com apontamentos de Lógica, mas já tenho caderno iniciado no ano passado.
Problema: que fazer do verde? Todos aqui fazem diário. Professôres há que recomendam a prática . Nunca disse nada, mas acho cretino se fazer diário. Vício manso, secreto. Não há de ser nada, vai ser mesmo diário.
A primeira página se foi.Pensei registrar tudo, não deixar um acontecimento sem registro. Acontece que não aconteceu nada – afora a mutilação do silêncio.
Há que ter história na vida de um rei – nada mais triste que rei sem história. Basta-me a lucidez: Rei da Criação. Tenho alma e uma enternidade a ganhar. Tarefa mais dura não há.


(Texto postado por João Antonio Bührer, no Grafolalia, em 2002)

setembro 14, 2008

O FORRÓ XIQUE XIQUE



Eu vi o cego lendo a corda da viola
Cego com cego no duelo do sertão
Eu vi o cego dando nó cego na cobra
Vi cego preso na gaiola da visão
Pássaro preto voando pra muito longe
E a cabra cega enxergando a escuridão
Eu vi a lua na cacunda do cometa
Vi a zabumba e o fole a zabumbá
Eu vi o raio quando o céu todo corisca
E o triângulo engulindo faiscá
Vi a galáctea branca na galáctea preta
Eu vi o dia e a noite se encontrá
Eu vi o pai eu vi a mãe eu vi a filha
Vi a novilha que é filha da novilhá
Eu vi a réplica da réplica da bíblia
Na invenção dum cantador de ciençá
Vi o cordeiro de deus num ovo vazio
Fiquei com frio te pedi pra me esquentá
Eu vi o cego lendo a corda da viola
Cego com cego no duelo do sertão
Eu vi o cego dando nó cego na cobra
Vi cego preso na gaiola da visão
A asa branca, a asa branca, a asa branca
E a cabra cega enxergando a escuridão
Eu vi a lua na cacunda do cometa
Vi a zabumba e o fole a zabumbá
Eu vi o raio quando o céu todo corisca
E o triângulo engulindo faiscá
Vi a galáctea branca na galáctea preta
Eu vi o dia e a noite se encontrá
Eu vi o pai eu vi a mãe eu vi a filha
Vi a novilha que é filha da novilhá
Eu vi a réplica da réplica da bíblia
Na invenção dum cantador de ciençá
Vi o cordeiro de deus num ovo vazio
Fiquei com frio te pedi pra me esquentá



Tom Zé e Arnaldo Antunes


FORRÓ XIQUE XIQUE

setembro 13, 2008



Subterranean Homesick Blues Remix


The Title

One evening just lately, as I was coming back from town to Engenho Novo on the Central line train, I met a young man from this neighborhood, whom I know by sight: enough to raise my hat to him. He greeted me, sat down next to me, started talking about the moon and ministerial comings and goings, and ended up reciting some of his verses. The journey was short, and it may be that the verses were not entirely bad. But it so happened that I was tired, and closed my eyes three or four times; enough for him to interrupt the reading and put his poems back in his pocket.

"Go on," I said waking up.

"I've finished," he murmured.

"They're very nice."

I saw him make a move to take them out again, but it was no more than a move: he was put out. Next day, he started calling me insulting names, and ended up nicknaming me Dom Casmurro. The neighbors, who dislike my quiet, reclusive habits, gave currency to the nickname, and in the end it stuck. Not that I got upset. I told the story to some of my friends in town, and they call me it too for fun, some in letters: "Dom Casmurro, I'm coming to dine with you on Sunday." "I'm going to Petropolis, Dom Casmurro; it's the same house in Renania; see if you can't drag yourself away from your lair in Engenho Novo, and come and spend a couple of weeks with me." "My dear Dom Casmurro, don't think I'm letting you off the theater tomorrow. Come and spend the night in town; I'll give you a box, tea, and a bed; the only thing I can't give you is a girl."

Don't look it up in dictionaries. In this case, Casmurro doesn't have the meaning they give, but the one the common people give it, of a quiet person who keeps himself to himself. The Dom was ironic, to accuse me of aristocratic pretensions. All because I nodded off! Still, I couldn't find a better title for my narrative; if I can't find another before I finish the book, I'll keep this one. My poet on the train will find out that I bear him no ill will. And with a little effort, since the title is his, he can think the whole work is. There are books that only owe that to their authors: some not even that much.


Machado de Assis, in Dom Casmurro


First page of Dom Casmurro < New York Times files.

setembro 07, 2008

O Barbeiro



Eu sou um barbeiro, isto é uma coisa que pode acontecer a qualquer pessoa e eu quero dizer que até esse dia fui um bom barbeiro, pois cada qual tem as suas manias e eu não gosto de borbulhas...
O caso aconteceu assim: comecei a barbeá-lo calmamente, ensaboei-o com habilidade e afiei a navalha no braço da cadeira e depois suavizei-a na palma da mão. Pois saibam que eu sou um bom barbeiro, porque nunca cortei ninguém e ainda por cima esse tipo não tinha uma barba muito espessa, mas tinha borbulhas.
Até devo reconhecer que nas suas borbulhas não havia nada de especial, no entanto incomodavam-me, revolviam-me as tripas. A primeira borbulha que estava à vista contornei-a bem, sem grande dificuldade. Mas a segunda começou a sangrar e então, não sei o que me deu, acho até que é uma coisa muito natural: aprofundei a ferida e depois sem poder deixar de o fazer, com um só golpe... Cortei-lhe a cabeça!


Max Aub

setembro 05, 2008

No Caminho de Swan.



Voltava a adormecer, e às vezes só despertava por um breve instante, suficiente para ouvir os estalos orgânicos do madeirame, abrir os olhos para encarar o caleidoscópio da escuridão e desfrutar, graças a um clarão momentâneo da consciência, do sono em que estavam mergulhados os móveis, o quarto, aquele todo do qual eu não era mais que uma parte ínfima, e a cuja insensibilidade rapidamente regressava. Ou então, enquanto dormia, havia regredido sem esforço a uma era para sempre passada da minha vida primitiva, voltando a encontrar alguns de meus terrores infantis como o de que meu tio-avô me puxasse pelos cachos do cabelo e que se dissipara no dia em que—data, para mim, de uma nova era—os havia cortado. Este acontecimento, eu o esquecera durante o sono, porém sua lembrança vinha-me logo que atinava em despertar para fugir às mãos de meu tio-avô, e por medida de precaução envolvia completamente a cabeça com o travesseiro antes de retornar ao mundo dos sonhos. Às vezes, como Eva nasceu de uma costela de Adão, uma mulher nascia durante o meu sono, de uma falsa posição de minha coxa. Originária do prazer que eu estava a ponto de sentir, julgava que ela é quem o oferecia. Meu corpo, que no dela sentia o meu próprio calor, procurava unir-se a ele, e eu acordava. O resto dos seres humanos parecia-me algo bem remoto comparado àquela mulher que eu havia deixado momentos antes; minhas faces ainda estavam quentes do seu beijo, meu corpo sentia-se dolorido pelo peso do seu. Se, como às vezes ocorria, ela apresentasse as feições de uma mulher que conhecera na vida, ia dedicar-me totalmente a esse objetivo: encontrá-la de novo, como os que seguem viagem para ver com os próprios olhos uma cidade desejada e imaginam ser possível desfrutar, em uma realidade, o encanto do sonho. Aos poucos, a sua lembrança se esvaecendo, eu esquecia a filha do meu sonho.

Marcel Proust

No Caminho de Swan < Leia o trecho completo.

setembro 04, 2008

A verdadeira arte de viajar.




A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!


Mario Quintana

agosto 27, 2008



Maanape comunica ao herói a volta de Venceslau Pietro Pietra. Macunaíma enche-se de coragem e decide matar o gigante. Come cobra e, com muita esperteza, coloca Piaimã balançando num cipó de japecanga, embala-o com força e o gigante acaba caindo dentro de um buraco onde Ceiuci, a velha caapora, preparava uma imensa macarronada. O gigante cai na água fervente e o cheiro de seu couro cozido, além de matar todos os tico-ticos da cidade, provoca o desmaio de Macunaíma. Quando se recupera, o herói apanha a muiraquitã e volta pra pensão. Morto Piaimã e reconquistada sua muiraquitã, Macunaíma, Maanape e Jiguê são novamente índios e resolvem voltar para o distante Uraricoera. O herói levava no peito “uma satisfação imensa”, mas não deixa de ter saudade de São Paulo. Tanto que levava consigo todas as coisas que mais o haviam entusiasmado na “civilização paulista”: um casal de legórnes, um revólver Smith-Wesson e um relógio Patek. Um bando de aves forma uma grande tenda de asas coloridas que protegem o Imperador do Mato-Virgem. Nesta viagem de volta feliz, o herói teve novas aventuras amorosas, lembrando-se com saudade da vida dissoluta que levara em São Paulo: encontra-se com Iriqui (antiga companheira de Jiguê) e com uma linda princesa que tinha sido transformada num pé de carambola. Com sua muiraquitã, o herói faz uma mandinga e o caramboleiro vira “uma princesa muito chique”, com quem tem vontade de brincar, mas não pode, pois são perseguidos pelo Minhocão Oibê. Graças a uma nova mandinga, o herói transforma Oibê num cachorro-do-mato, de rabo cabeludo e goela escancarada. Como Macunaíma agora só queria brincar com a princesa, Iriqui fica tristíssima e sobe “pro céu, chorando luz, virada numa estrela”.

agosto 24, 2008

Um poema de Adrienne Rich

Mulheres
As minhas três irmãs estão sentadas sobre rochas de obsidiana preta. Pela primeira vez, à esta luz, consigo ver quem são. A minha primeira irmã está a coser o fato para a procissão.Vai vestida de Senhora Transparente e todos os seus nervos estarão à vista. A minha segunda irmã também está a coser sobre a ferida do peito, que nunca cicatrizou completamente. Espera, enfim, aliviar este aperto no coração. A minha terceira irmã está a contemplar uma crosta vermelho-escura que o ocidente estende ao longe, sobre o mar. Tem as meias rotas, mas ela é linda demais.
(Adrienne Rich)

agosto 21, 2008

Murilo Mendes como Caixa de Banco

Modinha do empregado de banco

Eu sou triste como um prático de farmácia,
sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.

Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora!
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se eu tivesse estes contos punha a andar
a roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E os fregueses do Banco
que não fazem nada com estes contos!
Chocam outros contos para não fazerem nada com eles.

Também se o diretor tivesse a minha imaginação
o Banco já não existiria mais
e eu estaria noutro lugar.
(Murilo Mendes)

agosto 20, 2008

Monteiro Lobato e o Visconde (para André Valli)

– A vida, senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme e acorda, dorme e acorda, até que dorme e não acorda mais [...] A vida das gentes neste mundo, senhor Sabugo, é isso. Um rosário de piscados. Cada pisco é um dia. Pisca e mama, pisca e brinca, pisca e estuda, pisca e ama, pisca e cria filhos, pisca e geme os reumatismos, e por fim pisca pela última vez e morre. – E depois que morre?, perguntou o Visconde. – Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?
(Monteiro Lobato)

julho 29, 2008

AFÃ DE MUDANÇA

...Do caos para a luz. Sensações. Pipocas estralando na espiriteira. Nesta lida o zíper emperrado e um afã de despir que é irrevogável. Ela compreende e tenta ajudar, mas nada consegue. Ele tenta de novo, afinal o afã é astucioso no querer. O zíper está emperrado. O tempo parou. As eras são neolíticas e a posse comanda o desejo. "E se eu a rasgasse toda?" Ele pensa, mas não põe em prática o pensamento. "E agora?", ele fala. Ela responde que só vai conseguir abrir o zíper em casa. "Me leva para sua casa então!", ele lhe suplica. Aflito como um pernilongo, esperto como uma foca, humilde como um escravo e franco como um belo girassol...