março 01, 2013

Beto Palaio

AS LAPAS

Brinque, brinque, brinque.
E esqueça, esqueça, esqueça.
No Brasil tem tanta Lapa!
É Lapa de Cima, Lapa de Baixo. Inclusive a Lapinha da Serra do Cipó. Ou a Lapinha do Canto de Oxóssi.
Mas contemple a Lapa dos Arcos, carioca da gema, ou contente-se com a Lapa paulistana da Doze de Outubro.
Sim, de norte a sul tem muita Lapa!
Mas economize seu tempo e não ouça mais nada sobre lapas. Porque a lapa real é um vazio sem nada dentro.
Lapa  é buracão socavado na pedra.
Lapa é abismo, lapa é escuridão.
Inclusive tentaram salvar os desavisados dos perigos desta lapa. Tentaram dourar a pílula da lapa.
Mas lapa que é lapa nunca muda. Valha-me Nossa Senhora da Lapa! Com lapa não se pode brincar.
Mas esqueça, esqueça, esqueça.
E brinque, brinque, brinque...


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O EQUILIBRISTA

Minha vida é um trapézio
Sem rede para segurar minha queda
Olho para o vazio abaixo
Mas não caio

Meu andaime é a corda bamba
Com um equilibrador como cúmplice
Ao caminhar resoluto, bambeio
Mas não caio

O público ovaciona a travessia
Minha ex-mulher grita "tomara que caia"
Meu patrão rasga meu holerite
Mas não caio

A corda bamba é feita de arco-íris
Há um anjo em cada ponta, protetores,
Pula na corda um deus menino
Mas não caio

Uma diáfana mãe vem me seguir
Na corda com seu próprio equilibrador
Ela passa com receio que eu caia
Mas não caio

Há nesta corda um grifo nebuloso
O próprio universo que vem se regozijar
Do tempo que empresta e toma de volta
Nele eu caio.  

(Beto Palaio)


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