ABÃNEEGA PITUBA XERÉM, DISSE COBRA NORATO
(Parte 2)
Só quem viu é que pode contar. Naquela tarde
de Domingo, Miss Toranja veste-se de rendados escandalosos. Trança seus cabelos
longos em ofertas faceiras da pomba-gira. O magnetismo da saudade morde os anos
2000 com um retrô de Gabriela Cravo e Canela. Choveu e relampejou na Lapinha.
Enquanto o povo corre atrás da bola. Chá de limão, vitamina C e cama. Pimba na jurema
da morena seriema. A chama do amor, tal tocha das olimpíadas, nunca se apaga.
Bandoleiro caipirinha dom quixote valiente de nuestros desertos. Hay gobierno,
yo soy contra. O homem é o capacho do homem. Ovacionado. Tengo-Tengo andava
amasiado com uma índia danada de linda. Capengava ele na barriga da noite, sob
a mata fechada da Mantiqueira, touceiras que se adivinha no escuro, caçando favos de mel, em
passos de Fred e Ginger. Por outro lado. Ao pressentir a ordem subjacente, Cobra
Norato fazia mimos de lua nova na noite trevosa das Sete Quedas. Em
contraponto, Miss Toranja sozinha caminha pelas dunas insones do Jalapão. É que
habituamo-nos, desde o primeiro livro inscrito em pele de carneiro, a colocar
os heróis distantes um do outro. No entanto a obrigação é o espaço mais fundo
que existe. Neste convocatório. Toca um oboé. Pássaro noturno com quem
Tengo-Tengo jurou fazer dueto com sua flauta. Hoje o Riacho Doce, ao gritar nos
grotões, põe sustos. Diz o nome repetido do espichar da cobra mítica. Embora Cobra Norato se encontre a meio caminho. Em chuvas de confetes e serpentinas. Ele
passa pela catraca para ver o Rei Robert Charles em Aquidauana. Ao persistir na
brasa da Jovem Guarda, num entusiasmo práfrentex, o Norato compra uma
charrete pintada com um dístico vermelho e amarelo no qual a figura de um demo
emplumado incita um “quero que tudo mais vá para o inferno”. Depois compra um
cavalo branco em Cuiabá. Depois encontra ferraduras de prata em Goiás Velho. Na
ilusão do ki-suco pronto, ele senta para respirar em língua Tupi—abana eu nega:
abãneega pituba xerém—diz Cobra Norato, já dentro da Esplanada dos Ministérios,
em Brasília. Num tiquinho de nada. Norato ocupa uma cadeira de Deputado
Federal. Dali ele convoca Tengo-Tengo para um negócio de esticar verbas
públicas com máquina de asfaltar ruas. Sopra um vento quente no Mirador. Miss
Toranja também fincou mudança para Brasília. Aqui não tem ladeiras? Ela
perguntou para o Deputado Cobra Norato. Ele ficou sem saber o que dizer.
Convocou uma reunião extraordinária. Toda verba do ano vindouro seria utilizada
para montarem uma forjaria de morros artificiais para a Capital da República.
Beto Palaio
Ilustração: Nelson Leirner - Adoração (altar para Roberto Carlos) - 1966
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