ABÃNEEGA PITUBA XERÉM,
DISSE COBRA NORATO
(Parte 1)
Tengo-Tengo está descendo a rua da ladeira,
Miss Toranja se locupletou. Dentre milongas mal impressas, maranhões em
policromia, folhetins de fanzines prenhes, semblantes de lambe-lambes a delatar
pagodes renitentes, circos ocasionais e sessões de embaralhar tarôs. Por todo
lado havia inscrições góticas ao divulgado de POX POX POX, em meio a chistes de
atravancados, onças jaguaretês estilizadas em jatos de spray vermelho, mãos
impressas em negativo, beijos de romãs derretidas e grafites com imagens de
bocas linguarudas. Mais ainda. Frases desconexas, muitas. O celacanto gera
maremoto. Aquilo deu nisso. O rato roeu a roupa do rei. O tal atol lota e atola
ao talo. Esta última frase Tengo-Tengo meio que adivinhou no traduzir de uma
saraivada de palavras inscritas a canivete no muro lateral da estação do trem
intermunicipal: atola, afola, talo, tala, lota, lata, fato, falo,
total, atol. Neste pélago de ventre
entontecido, vem ao mundo um alegre porvir comunitário em comercinho tinhorão
de pipoqueiros de Alentejo, pastel de carne ou de palmito, toddynhos e
danoninhos, capas artesanais para celulares, pilhas recarregáveis, som de
músicas urbanas, damas mambembes oferecendo chupões e pererecas. Também se
vendia ali peixes fossilizados e ovos de dinossauros intactos. Nos pleitos, com
a permanente disputa eleitoral, eis que capangas adornavam-se de cartucheiras
mal disfarçadas, coldres à mostra, armas em punho, tiroteios desferidos de uma
esquina a outra e, na mais valia, um pingo de cultura, algo que não poderia
faltar, ao brotar nesse arrefecimento, amarrada em coisa de cinquenta metros,
desde o pé de ariticum até o pé de jatobá, a pele esticada do memorável Cobra
Norato. Isto ao desaconselho do próprio Norato, pois o correame assegura que o
tempo é de futilidades, filmes B e expurgação urbana. Frita o momento solerte
em masturbações igualitárias. A Barra Funda não é mais a mesma, o que se dirá
então da catita boate Som de Cristal?
Beto Palaio
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