junho 03, 2014



ABÃNEEGA PITUBA XERÉM, DISSE COBRA NORATO

(Parte 1)

Tengo-Tengo está descendo a rua da ladeira, Miss Toranja se locupletou. Dentre milongas mal impressas, maranhões em policromia, folhetins de fanzines prenhes, semblantes de lambe-lambes a delatar pagodes renitentes, circos ocasionais e sessões de embaralhar tarôs. Por todo lado havia inscrições góticas ao divulgado de POX POX POX, em meio a chistes de atravancados, onças jaguaretês estilizadas em jatos de spray vermelho, mãos impressas em negativo, beijos de romãs derretidas e grafites com imagens de bocas linguarudas. Mais ainda. Frases desconexas, muitas. O celacanto gera maremoto. Aquilo deu nisso. O rato roeu a roupa do rei. O tal atol lota e atola ao talo. Esta última frase Tengo-Tengo meio que adivinhou no traduzir de uma saraivada de palavras inscritas a canivete no muro lateral da estação do trem intermunicipal: atola, afola, talo, tala, lota, lata, fato, falo, total, atol. Neste pélago de ventre entontecido, vem ao mundo um alegre porvir comunitário em comercinho tinhorão de pipoqueiros de Alentejo, pastel de carne ou de palmito, toddynhos e danoninhos, capas artesanais para celulares, pilhas recarregáveis, som de músicas urbanas, damas mambembes oferecendo chupões e pererecas. Também se vendia ali peixes fossilizados e ovos de dinossauros intactos. Nos pleitos, com a permanente disputa eleitoral, eis que capangas adornavam-se de cartucheiras mal disfarçadas, coldres à mostra, armas em punho, tiroteios desferidos de uma esquina a outra e, na mais valia, um pingo de cultura, algo que não poderia faltar, ao brotar nesse arrefecimento, amarrada em coisa de cinquenta metros, desde o pé de ariticum até o pé de jatobá, a pele esticada do memorável Cobra Norato. Isto ao desaconselho do próprio Norato, pois o correame assegura que o tempo é de futilidades, filmes B e expurgação urbana. Frita o momento solerte em masturbações igualitárias. A Barra Funda não é mais a mesma, o que se dirá então da catita boate Som de Cristal?


Beto Palaio


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