ABÃNEEGA PITUBA XERÉM, DISSE COBRA NORATO
(Final)
Roda pela vida afora e põe prá fora essa
alegria. Do mato o gosto de pitangas e gabirobas. Miss Toranja topou com o
pequeno Tatuzinho. Tomou de goleada. Comeu no alforje do caçador. Arroz feijão
farinha quiabo frito no alho. O tatu de repente engrandeceu. Mastigou toda
extensão da barra do dia e engoliu o inteirinho mar da Bahia. Os dois, ela,
Miss Toranja e o Tatuzinho, tomaram rumo de seguir Norato e Tengo-Tengo. A
dupla de mensageiros que, em seguimento, ia para as bandas de Babilaque. Entre
a corda e a forca. Com a certeza dentro do coração. O pulso de mulher a tentava,
assim ia ela, rodando a baiana, Miss Toranja quer ver se a pororoca é mesmo tão
possante como a pintam e bordam. Tatuzinho foi quem lhe apresentou Norminha,
uma surfista cearense que logo oferece abrigo para a dupla. Norminha age na
confiança de que, na manhã seguinte haverá uma pororoca generalizada. A
surfista cearense é uma morena linda do badauê, mas também é cafajeste e
encrenqueira como ela só. Quando amanheceu o dia, num sonho todo azul, Norminha
já estava na boca do rio-mar. Atazanada no calote do catimbó, elazinha até
emprestou pranchas para Miss Toranja e Tatuzinho. Depois formatou de ensinar
para eles o Surf Para Principiantes, um apostilado em dez lições que orienta
como grudar o pé na prancha durante a permanência sobre a imensa gigante maior que
engole à tudo, grandona mesmo, porém enjeitada com o feio nome de pororoca.
Então repenicou os ponteiros da hora certa para se equilibrar no topo da tal
pororoca. Miss Toranja estava abafando. Tatuzinho não lhe ficava atrás. Ambos
iriam ganhar o troféu Primo Cabeludo. Isso até que Norminha, a surfista
cearense, percebeu que iria perder a corrida da Onda Grande e passou uma
rasteira aquática tanto em Miss Toranja quanto no plebeu Tatuzinho. Ocêis quer
ver alguém ganhar de mim na pororoca? A Norminha ainda teve a cara de pau de
perguntar antes de pranchar a dupla para dentro do crush empororocado do
rio-mar. No entanto. Quando a lua cheia apontou naquela noite, surge uma onda nova,
inchada de gorda, rolando em vagalhões homéricos e camonianos. Na forra da enchente,
flutuam lé com cré, Cobra Norato e Tengo-Tengo. Eles arrebatam Miss Toranja e
Tatuzinho do traiçoeiro caldo da pororoca e, além do mais, leva-os para
descansarem na rede macia da Fabrica de Farinha de Mandioca da Fordelândia. Ali
reside desde o tempo do Getúlio, uma boa senhora por alcunha de Tia
Francisquinha dos Cerros Portenhos, numas que, colher de pau na mão enervada,
ela conta causos de um peixe boto desvirar em homem, o que muito assustou Miss
Toranja, pois a moça lavava sua roupa na biqueira de um diminuto rio chamado
Igarapé. Ali finalmente Miss Toranja encontra a paz. Ela viu que aquele ser que
chamam de boto nada mais era senão um recurso visual do tamanduá baiano
Tengo-Tengo. Miss Toranja entra na água e confia demais em Tengo-Tengo. No bem-bom
ela tenteia e se deixa afogar nos abraços do homem-peixe. Ocorre que. Aos
avessos. Não longe dali. Vendo a animação da festa aquática, Cobra Norato pega
o Tatuzinho e tonteiam no voltar a ser gente para poderem seguir de barco o
casal de botos-cor-de-rosa recém casados. E lá vão eles. Quarteto danado de
bom, em choros de cachoeiras, passarinhos que beliscam goiabas no pé, peixinhos
que espalham cores de néon nas águas de viver. Eles, Norato e Tatu e Toranja e
Tengo. Esses hippies temporões da terra dos orixás não vacilam em pedir carona
na Transamazônica. Bem-te-vi que lhes carreguem. Eita! Estória mais enrolada
que piolho-de-cobra está para existir em nossas letras. Então quem quiser que
conte outra...
Beto Palaio
Edição em 5 partes.
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