Alice Abduzida
(Ilustração de Anna Zwiers)
Através do noticiário da TV era impossível deixar de se assustar. Divulgava-se ali algo estarrecedor sobre um maníaco que assaltava e assassinava mulheres e moças de família. Alice estava atenta aos alardes eletrônicos a respeito deste maníaco que atacava nas redondezas de seu bairro. As notícias asseguravam que ele matava, e depois, estuprava. Evidente que ela não se sentia segura nem dentro de casa, muito menos em sair à passeio por aí.
- Até os ferrolhos das janelas eu confiro todas as noites para saber se as fechei direito... Me dá calafrios só de pensar neste crápula...
Na realidade, Alice se sentia a próxima vitima. Ouvindo às noticias, ela praticamente se via nuazinha, à disposição do facínora. Via-se deflorada e tendo seu corpo de morta ultrajado pelo bandido. Isto ela imaginava fielmente porque ouviu na TV que o serial killer era metódico. Inclusive, de acordo com uma fonte da polícia, os exames indicavam que ele até tornava a vestir as mulheres depois da violência sexual. Alice não quer mais sair na rua sozinha. Ela tem medo de tudo. O próprio carteiro lhe inspira veladas desconfianças. É um homem abrutalhado que olha fixamente para ela enquanto lhe entrega as correspondências. O outro que ela desconfia é um caixa do supermercado local. Este indivíduo, com aparência de um estivador das docas, olha para ela com avidez, diretamente para suas pernas, e depois para seus seios, num perscrutar que a deixava invadida. Este homem desequilibrado a mirava despudoradamente e somente depois se propunha, não sem resmungos, a lhe entregar o troco correspondente à compra do mês.
- Será que é ele?
(Um trecho de conto do meu livro Caché Incluso)
4 comentários:
É que Alice não saía de casa sem batom, rímel e perfume. Seus cabelos louros eram tão esvoaçantes quanto suas curvas delicadas. Saia curtinha e pernas bronzeadas. Ela saía assim, tinha medo, mas saía assim.
Saía, sim.
Será que Alice tinha mesmo medo? Toda rosinha assim? rsss Ficou perfeito, Beto. bjo.
divertidíssimo o texto dessa Alice igualmente (e contraditoriamente) lasciva e pudica...
Adorei Beto!
Está inspiradíssimo!
Beijos!!!
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