maio 03, 2010
Desenho de Michelângelo
NO VATICANO
Raffaello em peito nu.
Depois a Praça de São Pedro, aos pombos, vazia.
Soluços sussurrados. A safada. Calcule o escândalo.
Sem traçar uma linha em latim. A senhorita maluquinha.
Para a necrópole de um dia apenas. Surgiu insaciável.
Vai Cérberus. Ao tempo o filme de prazer se escusa.
Ela esperava o pás de deux para irmos copular. À francesa.
Como cruzados convictos. Bandearam-se os atores,
A comer pizza mozzarella com champignon e azeite italiano.
Pode até ser lei na Antuérpia. Onde azulejam obras de Magritte.
Aqui, no entanto, la nave va em meio à santidades. Inclusive,
Possuíamos um ângulo, muito breve, do futuro transparente,
Ela preferia a roupa com amaciante, um piso bem encerado
E dos préstimos de uma tia que transatlanticou
Algo aconteceu meses atrás, com a tia imitando o Planeta Terra
Como se a Madama Rocambola também quisesse abdicar
Dos movimentos de rotação e translação.
Já imaginou se Madama Rocambola desiste de seu rebolado?
Deus desnuda-se na casa paroquial
Os lábios que sorveram a hóstia fremem numa oração
O perfume das orquídeas, sobre a cidade, adornam o Animal Planet
E, num afã, um tempo sem afrescos segue o andor
Num pequeno vapor que descobriu calvas nas serranias
E você tendo de posar para comerciais de enxovais de bebês?
Apenas uma implicação com o abismo das serras.
Pois precipício tipo lapa é da alma de cada um.
Beiramarávamos o sol nascente desde a Avenida Atlântica.
A Cinderela achou de fazer um boquete justo no túnel velho.
A idéia é um casamento consagrado nos dentes de uma pianista.
E o que se tocava, de passagem, muito lento, muito rápido
Era como um ninho de talheres farfalhando num gaveteiro
Chegamos afinal. E como meus vizinhos foram para a Espanha,
Fizemos amor no hall de entrada deles. Mas ninguém tirou a roupa.
Só mascamos chicletes e demos uma cochilada.
Depois fomos embora. Apalpar os fofos em outro lugar.
- Veja amor, todo coelho gordo é mal amado.
A coroa do sol já havia adormecido.
E para ela o sol continuou a brilhar em seu vôo noturno,
Dizer o que? Ela, nada, nuance, tudo. Sempre em exagero.
Eu desejava secretamente suas eternidades
Onde está a chave, amor? No sapatinho?
O príncipe, dono de seu coração, era outro e eu não sabia.
Mas sou de momentos concordantes na dita paz universal.
Incompatível com um rasto de luz lilás na pele sem juízo dela.
Sombras plagiam sombras. Logo Agnolo, Carruci e outros calabrêses
Pularam o muro. E nos mármores das catacumbas se viam sombras.
E ela pergunta, coca? Papelote? Quer um, amore?
Porção terreiros brasílicos no pó da praia, alhures. Tão linda,
Tão egípcia. Tinha algo de uma Gabriela dos livros santificados.
Claro que avó, bisavó e tataravó. Agora pobretãs e mendigas,
Súbito, despertaram para voltarem a ser ela mesma.
Ao longe silhuetas de guindastes negros ocupam-se das docas.
O luminoso do Motel Giovanni ainda piscava seus néons.
Duas pombas brancas se repetiam perfeitamente numa poça d’água.
O tesão é qualcosa di te que surge aristocrático aos que nunca trepam.
O incesto, a gaiola, o lamber e os retorcidos frontispícios do Vaticano.
Ela então me ofereceu o colo, com esmero, mas sem amor.
E o Rei continuou roendo Mondrians lá fora.
Com a realidade a esculpir cavalos sólidos.
E a púbis dela cresceu para aninhar aguardentes.
Navegantes náufragos da mansidão.
- Ragazzina, você não achou as minhas abotoaduras na Jacuzzi?
(Beto Palaio)
5 comentários:
Eu desejava secretamente suas eternidades
Lindo Beto, Adorei!
Beijos poéticos!
Adorei. Parece retirado diretamente do inconsciente!
pósmoderníssimo - com um certo tom da estética renascentista. :) beijo.
Risque meets Renaissance meets 21 st century. A beautiful mixture of art, words, and desire. I love your closing line - perfect.
As always, beautiful work, Beto.
Rê, é um enunciado misterioso, realmente... Hoje eu troco o "eternidades" pelas "sensualidades". Será que perderia o senso?
Bwana Jane, tudo pelo inconsciente. Saudade de nossos textos em conjunto..
Nydinha, sua percepção também foi sentida pela Jodi. Mas são tantas palavras para tomar conta. Prefiro o Haicái...
Jodi, thanks for translating me. Yes, that close line shows the madness of love in the night before. Nydia also thought about renaissance. I really love to read Giovanni Boccaccio, he’s such a story teller.
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