maio 05, 2010

Alice Abduzida


(Ilustração de Anna Zwiers)

Através do noticiário da TV era impossível deixar de se assustar. Divulgava-se ali algo estarrecedor sobre um maníaco que assaltava e assassinava mulheres e moças de família. Alice estava atenta aos alardes eletrônicos a respeito deste maníaco que atacava nas redondezas de seu bairro. As notícias asseguravam que ele matava, e depois, estuprava. Evidente que ela não se sentia segura nem dentro de casa, muito menos em sair à passeio por aí.

- Até os ferrolhos das janelas eu confiro todas as noites para saber se as fechei direito... Me dá calafrios só de pensar neste crápula...

Na realidade, Alice se sentia a próxima vitima. Ouvindo às noticias, ela praticamente se via nuazinha, à disposição do facínora. Via-se deflorada e tendo seu corpo de morta ultrajado pelo bandido. Isto ela imaginava fielmente porque ouviu na TV que o serial killer era metódico. Inclusive, de acordo com uma fonte da polícia, os exames indicavam que ele até tornava a vestir as mulheres depois da violência sexual. Alice não quer mais sair na rua sozinha. Ela tem medo de tudo. O próprio carteiro lhe inspira veladas desconfianças. É um homem abrutalhado que olha fixamente para ela enquanto lhe entrega as correspondências. O outro que ela desconfia é um caixa do supermercado local. Este indivíduo, com aparência de um estivador das docas, olha para ela com avidez, diretamente para suas pernas, e depois para seus seios, num perscrutar que a deixava invadida. Este homem desequilibrado a mirava despudoradamente e somente depois se propunha, não sem resmungos, a lhe entregar o troco correspondente à compra do mês.

- Será que é ele?


(Um trecho de conto do meu livro Caché Incluso)

4 comentários:

Jane C.Z. disse...

É que Alice não saía de casa sem batom, rímel e perfume. Seus cabelos louros eram tão esvoaçantes quanto suas curvas delicadas. Saia curtinha e pernas bronzeadas. Ela saía assim, tinha medo, mas saía assim.
Saía, sim.

nydia bonetti disse...

Será que Alice tinha mesmo medo? Toda rosinha assim? rsss Ficou perfeito, Beto. bjo.

paula cajaty disse...

divertidíssimo o texto dessa Alice igualmente (e contraditoriamente) lasciva e pudica...

Anônimo disse...

Adorei Beto!
Está inspiradíssimo!

Beijos!!!